Valor Econômico
09/07/2009
Ricardo Balthazar
De Washington
No último artigo que publicou antes de interromper sua carreira acadêmica para trabalhar de novo no governo, Arturo Valenzuela traçou um retrato sombrio do estado em que a América Latina se encontra, duas décadas depois da volta da democracia à região.
Ele acha que a maioria dos países não tem instituições capazes de garantir a estabilidade política necessária para governar e conter as inclinações autoritárias de seus líderes, e considera frustrantes os resultados das reformas econômicas que promovidas na região.
"Há uma crise de legitimidade democrática agravada pelas enormes injustiças sociais e pelo atraso de um continente que não tem conseguido melhorar seus índices de competitividade", escreveu Valenzuela, n uma coletânea de artigos sobre a América Latina publicada em abril na Espanha.
Dos 33 presidentes eleitos desde o início do processo de redemocratização da América Latina, nos anos 80, 14 foram afastados do cargo antes do fim de seus mandatos, diz o professor. O golpe em Honduras fez de Manuel Zelaya o 15º membro do clube.
A maioria das crises na lista de Valenzuela foi solucionada sem ruptura da ordem constitucional. Os presidentes afastados foram substituídos por sucessores eleitos ou pessoas escolhidas conforme as normas do jogo democrático.
Ainda assim, ele vê nessa estatística uma prova da imaturidade da democracia latino-americana e uma justificativa para reformas radicais. Ele acha que os países da região deveriam mudar suas instituições políticas e adotar várias das características presentes nos regimes parlamentaristas europeus.
Valenzuela reconhece que países como Brasil, Chile e México progrediram muito mais que outros na região. Mas ele tende a ver esses países como exceções à regra e acredita que até eles teriam algo a ganhar com reformas mais profundas em seus sistemas políticos.
Nada disso significa que Valenzuela usará seu cargo no Departamento de Estado para promover mudanças desse tipo. Em passagens anteriores pelo governo, ele exibiu capacidade notável de se distanciar das opiniões expressas em livros e salas de aula para buscar alianças necessárias à defesa dos interesses dos EUA na região.
No período em que assessorou o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) na Casa Branca, ele acompanhou de perto a crise que atingiu o Peru, em 2000, quando o presidente Alberto Fujimori viu-se forçado a renunciar em meio a denúncias de corrupção e fraude eleitoral.
Washington ficou ao lado de Fujimori até o fim. Apesar do estilo autoritário, ele era visto como fiador da estabilidade econômica no Peru e aliado no combate ao narcotráfico. Valenzuela não gostava de Fujimori, mas achava que ainda assim os EUA deveriam apoiá-lo.
"Ele tinha medo da instabilidade que a queda de Fujimori traria ao Peru, apesar dos problemas que suas tentativas de se manter no poder também criavam", diz Cynthia McClintock, professora da Universidade George Washington e autora de um livro sobre as relações dos EUA com o Peru nessa época.
O pragmatismo de Valenzuela também foi útil para ajudar o governo Clinton a vencer as resistências do Congresso americano ao Plano Colômbia, o bilionário pacote de ajuda financeira e militar para combater o narcotráfico e a produção de cocaína na Colômbia. Muitos aliados de Clinton no Partido Democrata se opunham ao plano porque desconfiavam do governo colombiano e de suas ligações com grupos paramilitares. Valenzuela ajudou a ampliar o apoio à iniciativa ao incluir no pacote medidas de proteção a direitos humanos e dinheiro para projetos de desenvolvimento.
Valenzuela teve duas passagens pelo governo Clinton. No primeiro mandato, ocupou um cargo de pouco destaque na hierarquia do Departamento de Estado e teve como principal responsabilidade acompanhar as relações dos EUA com o México. No fim do segundo mandato, trabalhou na Casa Branca e foi o principal assessor do presidente para a América Latina.
A experiência o ajudou a ganhar prestígio no Partido Democrata e a se movimentar com destreza nos corredores da burocracia americana. Mas agora Valenzuela terá de lidar com problemas diferentes dos que já administrou. "Há diferenças profundas hoje entre os países da região, e ele precisará de estratégias diferentes para cada um deles", diz Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano, centro de estudos de Washington.
Seu maior desafio será encontrar maneiras de se aproximar dos países que nos últimos anos se distanciaram dos EUA para entrar na órbita do presidente da Venezuela, de Hugo Chávez. "Chávez prefere a polarização e não parece interessado em nenhum tipo de cooperação com os EUA", diz Richard Feinberg, outro ex-assessor de Clinton para assuntos da América Latina.
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