quinta-feira, 16 de julho de 2009

Os critérios perversos de Insulza

O Estado de S. Paulo

16/07/2009

Jackson Diehl
Enquanto o presidente Barack Obama e outros governos latino-americanos se esforçavam para reverter o golpe em Honduras, outro líder eleito democraticamente realizava uma tarefa solitária para chamar a atenção para os dois pesos e duas medidas no julgamento de violações dos direitos humanos e políticos na região.

O venezuelano Antonio Ledezma venceu a eleição para a prefeitura de Caracas em novembro. Mas, enquanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) exige a volta de Zelaya ao posto, ignora a situação de Ledezma, afastado do cargo e sujeito a investigação criminal. No dia 3, enquanto a OEA se reunia em Washington para discutir a crise em Honduras, Ledezma entrou em greve de fome para chamar a atenção para os abusos de Chávez.

O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, um socialista chileno que conta com o apoio do presidente venezuelano, personifica esse sistema de dois pesos e duas medidas.

Ele defendeu Zelaya, mas não se interessou por Ledezma e por outros opositores eleitos na Venezuela, igualmente privados de direitos políticos por Chávez.

''QUESTÃO INTERNA''

A OEA "não pode envolver-se em questões de ordem interna de seus membros", disse Insulza em um comunicado. Com a greve de fome de Ledezma, Insulza, envergonhado, telefonou prometendo que se encontraria com prefeitos e governadores venezuelanos em Washington e investigaria as acusações contra Chávez.

Em seguida, porém, voltou a dizer que "é muito difícil determinar como um país deve organizar-se internamente". A mesma política foi adotada pelo governo americano. Embora Chávez tenha movido uma campanha contra a oposição, os EUA se recusaram a dar uma resposta dura.

Em vez disso, Obama concordou com a troca de embaixadores com a Venezuela e anunciou sua esperança de colaborar com o caudilho.

Na semana passada, pareceu que Washington havia mudado de estratégia.

Em seu depoimento no Congresso, o futuro secretário assistente para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, disse que após a crise hondurenha "tem de ficar claro que a resposta coletiva de apoio à democracia não deve se limitar à ação apenas quando os líderes eleitos são depostos".

Será que isso significa que os EUA pressionarão Insulza e a OEA a reavaliar o que está ocorrendo na Venezuela?

O gesto do governo americano de defender um presidente hondurenho hostil mostra uma oportunidade perdida de optar por uma ofensiva contra os atores mais antidemocráticos e perigosos do continente.

*Jackson Diehl é diretor da seção de Opinião de "The Washington Post"

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