domingo, 15 de fevereiro de 2009

Venezuela: ''O que há aqui é um processo de revolução'' /Entrevista

Folha de São Paulo

15/02/2009

Fabiano Maisonnave
DE CARACAS

Membro do núcleo duro chavista, o vice-presidente do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) para a região de Caracas, Aristóbulo Istúriz, diz que a restrição à reeleição "limita a soberania do povo". Leia trechos de sua entrevista à Folha.

FOLHA - Por que voltar a propor a reeleição indefinida?
ARISTÓBULO ISTÚRIZ - Neste momento, não estamos propondo a reeleição indefinida. Na Constituição, aprovamos o artigo cinco, pelo qual a soberania reside intransferivelmente no povo. Mas colocamos uma limitação, um fim no período de exercício dos cargos de eleição popular. Cometemos um erro ao aprovar um artigo que limitava a soberania do povo.

FOLHA - Por que Chávez é o único candidato em 2012?
ISTÚRIZ - Na Venezuela, não há período de governo normal, tradicional, conhecido na democracia representativa como um período de governo. Não há programa de governo, e sim processo revolucionário. É um processo de transformação da sociedade. Em democracia, sem sangue, com liberdades. Isso requer tempo. Para fazer as mudanças em paz, é preciso ter uma maioria contundente. E essa maioria é garantida pela liderança. Chávez une o que é diverso, o povo. Estamos em transição, as mudanças não terminaram, precisamos reter essa maioria, garantida por Chávez.

FOLHA - Há muitas provas de que a máquina do Estado tem sido usada na campanha.
ISTÚRIZ - Não se trata de usar a máquina do Estado. Aqui, os poderes de fato têm estado nas mãos das elites. Os donos dos meios de comunicação manipulam, desinformam, atropelam. O povo tem de se defender. Os meios internacionais, que representam os mesmos interesses que os meios daqui, calam.

FOLHA - Então o uso da máquina na campanha serve para confrontar esse poder de fato?
ISTÚRIZ - Não estamos usando o poder. Como povo que está governando, temos de velar pelos interesses da maioria. Se temos de usar alguns recursos, usaremos. Mas os direitos do povo estão acima de qualquer recurso.

FOLHA - Um argumento da campanha do "sim" é que, sem Chávez, haverá uma guerra civil. O que há no governo de Caracas, com as invasões...
ISTÚRIZ - Isso é mentira.

FOLHA - Na campanha, houve vários ataques com gás lacrimogêneo a estudantes, à casa do presidente da RCTV...
ISTÚRIZ - Não é verdade. À sinagoga, também?

FOLHA - Não citei a sinagoga.
ISTÚRIZ - Tudo isso são eles que fazem. Para o mundo, Chávez atacou a sinagoga. E vocês, grandes meios, formam uma rede de cúmplices. Essa oligarquia, com seus interesses na mídia, na banca internacional, é a que opera.

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