sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Órgão europeu alertou, em 2004, sobre racismo na Suíça

Folha de São Paulo

13/02/2009

Cíntia Cardoso, colaboração para a Folha de Paris
Segundo a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância, negros e minorias são alvos

Demógrafo da Universidade de Lisboa afirma que a crise econômica mundial pode agravar as manifestações xenófobas na Europa
Num relatório de 2004, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (Ecri) alertava para o perigo de atos racistas na Suíça, especialmente contra pessoas de origem africana. "Ao que parece, essa hostilidade [tem origem] na estigmatização que associa as pessoas negras de origem africana ao tráfico de drogas, crimes e prostituição. Essa estigmatização tem tido um impacto muito negativo no cotidiano de pessoas negras que vivem na Suíça", diz trecho do relatório.
A entidade alertava ainda para ataques contra outras minorias étnicas e contra refugiados políticos que não dominam a língua alemã.
O documento pedia que as autoridades suíças reprimissem "com firmeza" as manifestações de racismo e de xenofobia tanto em partidos políticos quanto em atos individuais.
A brasileira Paula Oliveira, agredida na noite da última segunda-feira em Dubendorf, pequena cidade a cerca de cinco quilômetros de Zurique, falava ao celular em português com a mãe, que mora no Brasil, no momento em que foi abordada.

Agravamento
Para Jorge Malheiros, especialista em imigração do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, a crise econômica mundial pode ser uma justificativa para o aumento do racismo e da xenofobia na Europa.
"Nessa época de crise, a população imigrante é mais vulnerável. Acredito que possa haver um incremento de atos anti-imigrantes e também o crescimento de um apoio de parte da opinião pública a políticas contra a imigração", explica Malheiros.
No caso dos brasileiros, o demógrafo afirma que são alvos de uma certa estigmatização em Portugal, onde a comunidade brasileira é numerosa e visível, e, por extensão, em outros países europeus.
"Há duas linhas de discriminação que já são algo antigas e que se mantêm estáveis. Primeiramente, a associação das mulheres brasileiras à sensualidade fácil e à prostituição. Esse é um estigma bastante forte. No caso dos homens, a mão-de-obra menos qualificada é associada à figura do "malandro carioca", numa visão negativa, e de trabalhadores preguiçosos."
No Reino Unido, há uma semana trabalhadores de uma refinaria da companhia francesa Total fizeram uma greve para protestar contra a contratação de empregados não-britânicos.
O ministro do Comércio Peter Mandelson diz não levar em consideração a razão do protesto. Já Keith Gibson, líder sindical partidário da greve, disse que era uma questão de "luta de classes" e não de racismo.
No entanto, como no caso da brasileira atacada em Zurique, a hostilidade a estrangeiros pode ganhar contornos violentos.
No dia 1º deste mês em Roma, um morador de rua indiano de 35 anos foi queimado enquanto dormia perto de uma estação de trem em Roma. Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, condenou "com dureza a violência" e prometeu que as agressões a estrangeiros serão punidas com rigor.

Ciganos e ilegais
Na França, também em 2004, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância apontou os problemas em relação aos imigrantes instalados no país. De acordo com o Ecri, os "roma" [ciganos] de países da Europa Central e do Leste Europeu são alvos de políticas discriminatórias do governo. O Ecri mostrava-se preocupado com as acusações de acampamentos de ciganos sendo "violentamente" destruídos pela polícia.
A ONG SOS Racisme, baseada na França, condena o programa do Ministério da Imigração e da Identidade Nacional Da França. Em 2008, o ex-ministro da pasta Brice Hortefeux, comemorou o fato de cerca de 30 mil estrangeiros terem sido expulsos ou deixado voluntariamente a França.
Na Itália, os ciganos, mas também indianos, paquistaneses e africanos, são elementos vulneráveis da população estrangeira. Os centros de detenção de imigrantes ilegais são criticados por ONGs por violarem os direitos humanos ao prenderem pessoas em condições insalubres. "Hoje estima-se que haja pelo menos 3 milhões de estrangeiros clandestinos na Europa. Eles são os mais frágeis", avalia Malheiros.

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