quarta-feira, 17 de junho de 2009

Estado palestino?

Jornal do Brasil

17/06/2009

André Luís Woloszyn

ANALISTA DE INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA

Em um momento em que as ações do terrorismo internacional têm se manifestado de forma localizada, porém não menos frequente, surge à mesa de negociações uma aposta que divide a opinião de analistas. A criação do Estado palestino, um sonho legítimo acalentado há décadas pela comunidade muçulmana e com previsão legal das Nações Unidas desde 1947, ano da criação do Estado judeu.

Para uns, a iniciativa apresentada pelos EUA poderá acarretar em redução das tensões e ações terroristas na região do Oriente Médio, considerado por muitos especialistas um polo irradiador do terrorismo notadamente para a Ásia e África. Para outros, o Estado palestino trará força aos grupos extremistas que pregam a extinção de Israel e será mais um apoiador do terrorismo, agora com legitimidade e independência, protegido por normas do direito internacional.

Inobstante tais aspectos, diversos fatores de natureza estratégica deverão ser analisados de forma decisiva para a concretização dessa iniciativa. Dentre estes, a perspectiva de futuras relações do novo Estado com países da região como a Síria, o Líbano e o Irã e a hipótese de fortalecimento destes em um bloco contra Israel.

Nesta questão, pelo menos um ponto é de consenso geral. Dificilmente ocorrerá um acordo nos termos apresentados pois as imposições de Israel como condição para assinar e reconhecer o Estado palestino são consideradas absurdas e não foram aceitas pela Autoridade Nacional Palestina, pressionada por grupos internos como o braço armado do Hamas e o da Frente para a Libertação da Palestina.

Caso fossem aceitas tais imposições os palestinos teriam um Estado fantoche e ainda mais vulnerável do que os territórios atuais, sem Forças Armadas para protegê-lo, principalmente no que se refere à defesa da população e da soberania territorial.

Outro ponto polêmico é o desarmamento dos braços armados de grupos considerados partidos políticos pelos palestinos – sendo, no entanto, tidos pelo Departamento de Estado americano como terroristas.

Embora a iniciativa possa ser considerada uma das maiores estratégias diplomáticas do século 21, deixando os EUA de maneira confortável perante a opinião pública internacional e com uma visão de excelência na mediação de conflitos, um contraponto a era George Bush, a tendência é de que o sonho de um Estado palestino seja prorrogado mais uma vez por tempo indeterminado. Exceto se houver uma mudança radical de paradigmas de ambas as partes – o que, historicamente, não tem ocorrido.

Nenhum comentário: