quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cerco a mídia e opositores

O Globo

18/06/2009

Manifestantes desafiam o governo iraniano, que ameaça blogueiros e prende 200

TEERÃ

As autoridades iranianas apertaram o cerco ontem a blogueiros, jornalistas, estudantes e opositores, ameaçando manifestantes de uma província com a pena de morte. Pelo menos 200 ativistas de destaque já foram presos. O governo reduziu a velocidade de conexão da internet, tornando a navegação extremamente lenta, e era difícil conseguir sinal para o celular funcionar.

Mesmo assim, milhares de pessoas organizaram um novo protesto e voltaram às ruas de Teerã e de outras cidades iranianas para contestar o resultado das eleições presidenciais de sexta-feira. Apesar do silêncio dos manifestantes, que tentavam não provocar os policiais, a mensagem era clara: não estão dispostos a recuar.

Vestidos de preto e verde (a cor da campanha de Mir Houssein Moussavi), os manifestantes foram até a Praça Vali Asr, no protesto que reuniu até 500 mil pessoas. Eles se repetiram em Shiraz, Isfahan, Rasht, Orumiyeh, Zanjan, Zahedan, Tabriz, Mashhad e Qazvin.

— Por que deveria ter medo? Nós somos muitos, eles não podem resistir às nossas exigências — desafiou uma jovem na manifestação.

A polícia não interveio, mas a repressão ganhou novas formas. A Guarda Revolucionária ordenou que todos os sites e blogs eliminem qualquer conteúdo “que gere tensão”. O governo reduziu a velocidade de conexão e limitou ainda mais o acesso a sites, mostrando que a habilidade dos webcensores vem crescendo. O tráfego de dados já caiu 54% desde a eleição.

Houve uma debandada de jornalistas estrangeiros, cujos vistos não foram renovados. Christiane Amanpour, da CNN, e Tim Marshall, da Sky News, já deixaram o país, enquanto Bill Keller, editor-executivo do “New York Times” fazia as malas — a extensão do visto fora negada. Os jornalistas estão proibidos de cobrir as manifestações e foram alertados ontem novamente.

O Irã acusou repórteres estrangeiros de serem “porta-vozes de vândalos”.

Onze jornalistas do país foram presos e dez têm o paradeiro desconhecido.

As imagens que chegam ao exterior são feitas por celulares. Jornalistas que tentam ligar para fontes no país encontram telefones desconectados, e para os iranianos é negado o acesso a sites de notícias. Mensagens de texto por telefone estão suspensas.

Moussavi convoca dia de luto nacional

Mas uma rede de voluntários se encarrega de informar sobre os protestos.

Um dos principais meios de comunicação é a rede de relacionamentos Twitter. E ontem o Pirate Bay, um movimento contra direitos autorais na internet, lançou um fórum de discussão para os iranianos usarem.

Moussavi também manteve o tom desafiador. Em seu site, ele convocou um dia de luto nacional para hoje, em homenagem aos mortos nos protestos: oito, segundo fontes oficiais. “Queremos uma manifestação pacífica contra as irregularidades e para conseguir que os resultados sejam anulados”.

A sensação de ameaça contra a oposição cresce. A Campanha para Direitos Humanos, em Nova York, estima que 200 ativistas proeminentes foram presos. Mohammadreza Habibi, o promotor da província de Isfahan, advertiu os manifestantes: — Alertamos elementos controlados por estrangeiros que tentam perturbar a segurança que a pena para a guerra contra Deus é a execução.

Por outro lado, o Ministério do Interior se viu obrigado a investigar o ataque ao dormitório da Universidade de Teerã, após a divulgação de imagens feitas com o celular pelos estudantes.

Ontem, mais quatro universidades teriam sido atacadas pelos Basijis, a força paramilitar, e 150 estudantes teriam sido presos.

O Ministério do Exterior chamou o embaixador da Suíça, que representa os interesses dos EUA no país, para protestar contra a interferência do governo americano, classificando-a de intolerável. Na véspera, o presidente Barack Obama dissera estar preocupado com a violência no Irã.

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