segunda-feira, 8 de junho de 2009

As oportunidades do pré-sal

Correio Braziliense

08/06/2009


Carlos Lessa
Economista, professor universitário, decano e ex-reitor da UFRJ, ex-presidente do BNDES
A confirmação dos depósitos de petróleo no pré-sal é um fato que, de forma conservadora, projeta 40 bilhões de barris para as reservas brasileiras, e até, muito provavelmente, 90 bilhões de barris. Essa segunda hipótese converteria o Brasil no quarto detentor de reservas mundiais. A economicidade desses poços é garantida com o petróleo acima de US$ 50 o barril. A Petrobras tem o domínio perfeito da identificação e perfuração no pré-sal, pois furou 11 poços e todos eles produzem petróleo leve de alta qualidade.

O poço pioneiro custou US$ 260 milhões, os demais US$ 60 milhões. A Amazônia Azul, como está sendo chamada a área do pré-sal, é um retângulo que se desdobra por 800 quilômetros, desde o Espírito Santo até o litoral de Santa Catarina, com 200 quilômetros médios de largura. Essa área pode ser a oportunidade histórica para o Brasil acelerar seu processo de desenvolvimento e justiça social, mas não podemos cair em dois erros.

O primeiro seria nos convertermos em país exportador de petróleo. Isso é uma maldição. No limite ser um Iraque. Exportar petróleo é um péssimo negócio. A Indonésia exportou seu petróleo por anos. Esgotados seus campos, importou petróleo, em 2008, a mais de US$ 110 o barril. O México, quando quebrou com a dívida externa, empenhou suas reservas de petróleo. Eram 48 bilhões de barris. A exploração predatória dos credores reduziu as reservas mexicanas a 12 bilhões e o país corre o risco de virar importador. Os europeus falam da doença holandesa. A Holanda com as reservas do Mar do Norte resolveu ser exportadora. Desativou suas bases industriais, transferiu suas unidades produtivas para outros países e, quando acabou o petróleo, ficou debilitada.

A melhor opção para o Brasil seria desenvolver a economia do petróleo como frente de expansão das forças produtivas internas e exportar derivados de petróleo, ou, o que é melhor, produtos para os quais o petróleo é a energia necessária e adequada.

O segundo erro seria o país se converter em bebedor maníaco de petróleo. O Brasil tem uma ótima matriz energética, com uma alta percentagem de formas renováveis: hidroeletricidade, lenha e derivados de cana. Não devemos expandir a energia por brasileiro perdendo essa boa dimensão de nossa matriz. Utilizamos 45% de energia renovável. O mundo utiliza 10% e os Estados Unidos, menos.

Não há melhor aplicação financeira estratégica para um país do que dispor de reservas de petróleo cubadas e acessíveis, estocadas na rocha mater. Nos últimos 25 anos, o consumo mundial cresceu sistematicamente por cima da descoberta de novas reservas. A tendência histórica é a de o petróleo se converter numa matéria prima cada vez mais valiosa. Permite cerca de 3.000 subprodutos e seu uso, quando o preço for se elevando, será cada vez mais reservado a itens não energéticos. Não é por outra razão que é denominado de ouro negro.

Não é por outra razão que é objeto de desejo das grandes potências, enormes bebedoras, viciadas em petróleo e sem suprimento nacional. Os Estados Unidos consomem 10 bilhões de barris por ano. Todas as suas reservas são de 29 bilhões. Por isso o Iraque, por isso o Afeganistão. Por isso o Irã e Hugo Chávez estão sob ameaça.

A Amazônia Azul brasileira pode ser uma bênção, mas também pode trazer ameaças a nossa soberania. Não podemos admitir presença estrangeira nas jazidas de ouro negro, que poderão financiar nosso futuro civilizatório.

A Petrobras foi recém-considerada em pesquisa internacional uma das dez mais promissoras empresas do planeta. Tem condições para, dominando o mercado interno brasileiro e com tecnologia de ponta, financiar, na medida do necessário, o desenvolvimento de nossa economia do petróleo. O BNDES, hoje maior que o Banco Mundial, pode ser seu parceiro nessa aventura e seria conveniente estudar a fusão da Petrobras com a Eletrobrás, para que o assunto da energia fosse tratado empresarialmente como a chave de nosso futuro.

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