quinta-feira, 13 de maio de 2010

‘Os iranianos estão passando pelo período mais obscuro de sua história’

O Estado de S. Paulo

13/05/2010

Ania Cavalcante, especial para O Estado

ENTREVISTA
Mahmoud Amiry-Moghaddam, ativista iraniano de direitos humanos

O Irã já foi um país tolerante. Hoje, é umque mais viola os direitos humanos. Como o sr. vê a situação atual do Irã?
Os iranianos estão passando pelo período mais obscuro de sua história. Violações de direitos humanos também ocorreram no regime anterior, mas a situação se agravou depois de 1979.

Segundo o relatório anual do Iran Human Rights, as execuções por pena de morte são as maiores dos últimos dez anos.
A situação se deteriorou após as eleições de junho. Muitos foram presos e torturados. O regime está fazendo de tudo para impedir novos protestos e estamos
preocupados porque a violação de direitos humanos pode se agravar nos próximos meses.

Como o sr. vê a aproximação entre Brasil e Irã?
A seleção de futebol do Brasil têm muitos fãs entre os jovens iranianos. A mesma juventude que têm sido jogada nas prisões, torturada, assassinada nas
ruas. Entregar a camisa do Brasil para os responsáveis por esses crimes é um insulto à seleção brasileira. Espero que jogadores, torcedores e a Confederação
Brasileira de Futebol protestem e mostrem solidariedade aos iranianos. O Brasil está consciente das violações de direitos humanos no Irã. Qualquer diálogo com autoridades iranianas, sem mencionar os direitos do povo, é um sinal de
aceitação dessas violações.

Lula visitará Mahmoud Ahmadinejad no fim de semana. Se o sr. pudesse, o que diria ao presidente do Brasil?
Ouvi Lula falar a respeito dos direitos dos trabalhadores e dos sindicalistas. Gostaria de informá-lo que os trabalhadores iranianos não têm direito de organizar seus próprios sindicatos. Eles não têm direito de greve. Quando protestam por falta de pagamento, o regime responde espancando-os e colocando-os
na prisão. Gostaria de pedir a Lula que pergunte a Ahmadinejad sobre os trabalhadores que estão nas prisões, sobre a tortura e as sentenças de morte para menores de idade.

O que o sr. acha do programa nuclear iraniano?
O Irã está buscando armas nucleares. Isto é motivo de grande preocupação. O regime atual com armas nucleares é uma ameaça maior ainda. Devemos lembrar que só um Irã democrático pode garantir uma paz e a estabilidade na região. É por isso que a comunidade internacional não deve comprometer os direitos do povo iraniano em detrimento da questão nuclear.

O sr. crê ser moral manter relações econômicas com um país cujo regime viola os direitos humanos e oprime seu povo?
Investir no Irã vai contra os interesses dos iranianos. Todo o diálogo deveria estar centrado nos direitos humanos. Como qualquer indivíduo, membros de governo e empresários privados têm a responsabilidade moral de reagir diante de crimes contra outros seres humanos.

Nenhum comentário: