Folha de Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2010
Divisões no país remontam à ditadura, diz analista
DE BUENOS AIRES
A dificuldade de lograr consensos no campo político e um clima de embate permanente entre a população são heranças do último regime militar (1976-1983) instalado na Argentina, que de forma violenta transformou a identidade nacional e fez o país regredir.
É o que defende o sociólogo da UBA (Universidade de Buenos Aires) Luis Fanlo, que estuda a "argentinidade". Segundo ele, o período inscreveu no corpo do argentino um perfil de confronto e que permite pouca autocrítica.
"As diferenças são vistas como obstáculos que devem ser arrancados. É como se fosse preciso aniquilar aquele que pensa diferente. Cito como exemplo o jargão "hay que matarlos a todos". Parece sair da boca para fora, mas representa uma carga forte de violência."
Segundo Fanlo, a subjetividade dos argentinos foi reconfigurada em uma profundidade ainda impossível de precisar, mas essa mudança pode ser percebida tanto no Congresso Nacional como em conversas de esquina.
"Há um rechaço em ouvir o outro, uma dificuldade de entender uma posição contrária, seja na política, seja no futebol", afirma.
VIOLÊNCIA
As entidades de direitos humanos estimam que aproximadamente 30 mil pessoas tenham sido assassinadas pelo aparato repressor do Estado durante o regime militar, o que faz da última ditadura argentina uma das mais sangrentas da história do continente.
Enquanto o Brasil aposta na anistia e no esquecimento como melhores opções para lidar com o passado, na Argentina estão em curso centenas de processos contra membros do regime militar.
A reabertura das causas na Justiça foi possibilitada pela revogação das leis de anistia no governo Néstor Kirchner (2003-2007).
terça-feira, 25 de maio de 2010
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