sábado, 17 de julho de 2010

Imprensa Livre

Folha de São Paulo, sábado, 17 de julho de 2010




ANÁLISE

A importância de uma imprensa livre e inflexível para os regimes democráticos
MARC-ANTOINE DILHAC
DO "MONDE"

Cabe festejar sem reservas as revelações e análises da imprensa francesa no caso Bettencourt-Woerth.
O governo e os ocupantes de cargos eletivos deveriam se parabenizar por a França ter uma imprensa independente e vigorosa. Talvez alguns dos políticos que evocam o uso de "métodos fascistas" não saibam a importância da imprensa livre e inflexível para a democracia.
Em um regime no qual os cidadãos exercem a autonomia política, a função essencial da imprensa é dar a eles meios de desenvolver senso crítico. Logo, é indispensável dar dados pertinentes, sem disfarçar os desagradáveis.
Essa liberdade de informar é tão essencial para a democracia que não pode ser limitada sem que os direitos de cada cidadão sejam ameaçados. São necessárias razões superiores para que isso seja contradito de forma legítima.
Difamação seria uma delas? Caso difame uma pessoa privada ao divulgar erroneamente atos que suscitem julgamentos degradantes, a imprensa não teria direito a invocar indulgência. Mas os mesmos princípios não servem para restringir a liberdade de imprensa quando esta investiga fatos públicos, com pessoas públicas.
É sabido que, em seu desejo de revelar a verdade, a imprensa pode usar dados insuficientes, cometer erros. Mas, se a condenarmos pelos erros de boa fé, o efeito será um só: a censura pela autocensura.
De sua parte, a imprensa não deveria aceitar quaisquer compromissos na busca por informações. É preciso abandonar a ideia de que a imprensa é o quarto poder, porque ela é, na verdade, a serva livre da democracia.

MARC-ANTOINE DILHAC é doutor em filosofia e professor-adjunto de filosofia

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