Folha de São Paulo, sábado, 17 de julho de 2010
Censura a revista gera crise na França
Justiça manda publicação paródica "Le Monte" recolher exemplares da banca e ocultar caricaturas de Sarkozy
Montagem contra o presidente do país satiriza escândalo de financiamento da campanha de 2007
15.jul.2010/France Presse
Polícia interroga administrador de paraíso fiscal em caso das doações ilegais
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Os efeitos colaterais do escândalo político-financeiro envolvendo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, agora atingem a mídia.
A revista satírica "Le Monte" -paródia do influente diário "Le Monde"- foi obrigada pela Justiça a ocultar suas fotomontagens com o mandatário. Em uma delas, ele é representado nu em uma cela, prestes a manter ato sexual com um homem.
A publicação começou a recolher os exemplares nas bancas, sob pena de ser multada em 100 para cada foto não ocultada. Seu advogado, Patrick Klugman, considerou a medida "preocupante", por atacar "a liberdade de expressão".
O ministro do Trabalho, Eric Woerth, também tesoureiro do partido governista (UMP), é acusado de ter recebido doações ilegais da ex-contadora de Liliane Bettencourt -a herdeira do grupo l'Oreal- para financiar, em 2007, a campanha presidencial de Sarkozy.
Mas o caso Bettencourt também questionou a crise por que passa a mídia impressa do país. As principais revelações não foram feitas pela mídia tradicional, mas por publicações de menor porte, como "Marianne" e "Le Canard Enchaîné", e por sites alternativos.
Em entrevista à Folha, Edwy Plenel, fundador do site Mediapart e ex-redator-chefe do "Monde", disse que a mídia francesa estaria nas mãos de "amigos" de Nicolas Sarkozy.
O site e seu criador foram violentamente atacados pelo governo depois da publicação, no dia 16, de depoimento da ex-contadora de Liliane Bettencourt.
O Mediapart foi acusado de utilizar métodos fascistas e trotskistas.
"Sites como esses são meios de comunicação mais reativos, que privilegiam o trabalho de investigação", afirma Laurent Leger, jornalista independente.
OPOSIÇÃO
Asfixiada pela queda nas vendas, pela concorrência com os diários gratuitos e pela internet, a imprensa francesa acabou fazendo alianças polêmicas. Um exemplo foi a aquisição, em 2005, do jornal ícone da esquerda -o "Libération", fundado pelo filósofo Jean-Paul Sartre- pelo empresário Edouard de Rothschild.
Já o "Monde" acumulava dívida entre 80 milhões e 120 milhões e estava à beira da falência havia poucos dias, quando foi adqurido pelos empresários Pierre Bergé, Xavier Niel e Matthieu Pigasse. O processo teve a intervenção direta de Sarkozy.
Ele chegou a convocar o diretor-executivo do jornal, Eric Fottorino, para manifestar sua oposição à aquisição do jornal pelo trio, considerado por ele como "excessivamente de esquerda".
sábado, 17 de julho de 2010
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