quinta-feira, 8 de julho de 2010

A CNN e a liberdade de expressão

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Editora da CNN é demitida por comentário sobre clérigo


A emissora norte-americana de televisão CNN anunciou hoje a demissão de uma editora
responsável pela cobertura do canal sobre o Oriente Médio depois de ela ter
manifestado admiração pelo grão-aiatolá Sayyed Mohammed Hussein Fadlallah, falecido
no fim de semana. A CNN justificou a demissão com o argumento de que a admiração
manifestada por Octavia Nasr no Twitter coloca em xeque "a credibilidade de seu
trabalho". Ela trabalhou na emissora por 20 anos.

No fim de semana, Octavia comentou no Twitter que estava triste pela morte de
Fadlallah, um respeitado líder xiita libanês considerado por muitos a inspiração
religiosa do movimento Hezbollah (Partido de Deus). Octavia também qualificou
Fadlallah como "um dos gigantes do Hezbollah que eu respeito muito".

Posteriormente, em um blog, Octavia justificou sua admiração por Fadlallah,
elogiando sua postura em favor dos direitos das mulheres. A seguir, em seu Twitter,
ela qualificou o elogio como um "erro de julgamento", pois parecia expressar total
apoio ao clérigo islâmico.

Durante sua vida, Fadlallah assinou éditos religiosos nos quais, entre outras
coisas, proibiu que mulheres fossem mortas por "honra" e concedeu às mulheres o
direito de bater no marido se fossem agredidas antes.

Morto no domingo, aos 75 anos, o clérigo progressista foi uma das maiores
autoridades do xiismo e uma figura religiosa das mais reverenciadas e respeitadas
não apenas por seguidores da seita islâmica, como por líderes de outras religiões.

Visto por alguns como o mentor espiritual do movimento islâmico Hezbollah e por
outros como uma voz de pragmatismo e moderação religiosa, Fadlallah contribuiu com a
ascensão da comunidade xiita no país nas últimas décadas. Ele foi um dos fundadores
do Partido Dawa, ao qual pertence o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Malik, e
teria sido seu guia religioso até o último dia de vida.

Nascido no Iraque em 1935, ele viveu na cidade xiita de Najaf até completar 30 anos.
Mais tarde, Fadlallah se mudou para o Líbano, onde começou a lecionar religião e
incitou os xiitas - que hoje representam um terço da população libanesa de quatro
milhões de pessoas - a lutarem por seus direitos nas décadas de 1970 e 1980.

O grão-aiatolá foi tido nos anos 1980 como líder espiritual do Hezbollah, afirmação
negada tanto por ele quanto pelo grupo. Durante a guerra civil libanesa (1975-1990),
ele também foi associado pela mídia ocidental aos rebeldes xiitas que sequestraram
norte-americanos e outros ocidentais, bem como bombardearam a embaixada dos Estados
Unidos e uma base da marinha no Líbano, matando mais de 260 pessoas.

Fadlallah apoiou a Revolução Islâmica no Irã em 1979, mas se distanciou do princípio
que defendia o aiatolá Ruhollah Khomeini como o líder supremo e incontestável de
todos os xiitas do mundo.

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