domingo, 4 de abril de 2010

Morales e Constitucionalismo latino-americano

Folha de São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010




Morales busca hegemonia em pleito regional
Boliviano tenta derrubar último bastião da oposição, impulsionando campanha de aliados nos departamentos governados por rivais

Pesquisas, porém, só indicam vitória governista em 1 das 4 regiões hoje oposicionistas; há empate técnico em outra e chance de 2º turno numa 3ª


Bolivianos caminham em frente a escritório de campanha do partido Movimento ao Socialismo, do presidente Evo Morales

Mais de 5 milhões de bolivianos vão às urnas neste domingo nas eleições departamentais e municipais, após uma campanha marcada pelo protagonismo do presidente Evo Morales.
No total, serão eleitas 2.502 autoridades, entre governadores, prefeitos, parlamentares departamentais (estaduais), vereadores e outros cargos.
A eleição, de logística complexa -serão 478 tipos de cédulas em todo o país-, é mais um passo no objetivo de Morales de converter a Bolívia em um Estado "plurinacional", modelo previsto na nova Constituição do país, aprovada em referendo no ano passado.
E, apesar de seu caráter regional, o pleito também é uma nova prova para a liderança de Morales, que foi reeleito em dezembro com 64,2% dos votos. Na ocasião, seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), tomou o controle do Senado, até então o outro foco de resistência da oposição.
Participando quase que diariamente de comícios por todo o país, o presidente pressionou o eleitorado a votar nos candidatos do MAS, porque, como disse na última quinta-feira em El Alto, "não trabalhará com os conspiradores", referindo-se à oposição.
Pesquisas divulgadas na semana passada indicam que o MAS vencerá nos departamentos (Estados) de La Paz, Oruro, Potosí e Cochabamba, que já governa, e em Pando.
A vitória neste último é tida como muito importante para Morales. Ao lado de Santa Cruz, Beni e Tarija, o departamento faz parte da chamada "meia-lua" -região controlada pela oposição que, durante o primeiro mandato de Morales, se uniu em uma frente comum que reivindicava autonomia por opor-se à política do presidente de tentar concentrar em suas mãos o poder político e econômico do país.
O maior objetivo de Morales é tirar da direita os quatro departamentos (ele chegou a "prever" em um comício que a "meia-lua" será destruída). Mas pesquisas indicam que o cenário será diferente.
Segundo o Instituto Ipsos, em Tarija há um empate técnico (assim como em Chuquisaca, que não faz parte da meia-lua), e em Beni e Santa Cruz o MAS será derrotado. Neste último, porém, regras eleitorais permitem um segundo turno.
"Com a vitória em Pando, o MAS terá dado mais um passo [em direção à hegemonia]. Mas, se não vencer em Beni, Tarija e Santa Cruz, esse passo não será tão grande quanto se pensava após a grande vitória em dezembro", disse à Folha o cientista político Hugo Moldiz.
Embora os levantamentos indiquem que Morales não terá total controle do país, o resultado do pleito também não poderá ser visto como vitória da oposição, segundo o analista boliviano Eduardo Gamarra, que leciona na Universidade Internacional da Flórida.
Ele explica que as forças contrárias ao presidente foram enfraquecidas por dois fatores. O primeiro é a repressão que sofrem do governo. "Se você é um membro da oposição, sofre uma série de acusações, reais ou inventadas", disse.
Como exemplo, cita o candidato a prefeito de La Paz, Guillermo Fortún, que, acusado de corrupção, se exilou no Chile.
Outro fator é a divisão interna. "Com lutas internas e vários candidatos competindo para saber quem vai representar a oposição, eles acabaram dividindo o eleitorado em vez de se unir em torno de um projeto único", afirma.

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