sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Diplomacia brasileira

Valor Economico 12 de fevereiro de 2010
Itamaraty promove mudanças em várias embaixadas

Sergio Leo e Cristiano Romero, de Brasília

Roberto Jaguaribe: considerado um "peso-pesado", vai para o Reino Unido
Por receio de problemas para aprovar indicações de diplomatas no Congresso, no segundo semestre de um ano eleitoral, o Itamaraty remanejará, nos próximos dias, algumas das principais embaixadas no exterior. O atual subsecretário-geral de Política, Roberto Jaguaribe, será indicado para a embaixada no Reino Unido; o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Galvão, para a embaixada no Japão; o diplomata Marcelo Biato, adjunto do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, vai para a embaixada da Bolívia; e o atual embaixador na Bolívia, Frederico Cézar Araújo, foi indicado para o Chile.

O embaixador no Chile, Mário Vilalva, será transferido para Portugal, de onde o atual embaixador, Celso Marco de Souza, sairá para se aposentar. Assessores de Lula preveem que os novos postos devem ser ocupados somente no fim do segundo semestre, já nos últimos meses de governo, o que poderá fazer com que sejam escolhidos interinos para os atuais postos de Jaguaribe e Galvão na administração pública.

As nomeações decididas neste ano mantêm a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de indicar apenas diplomatas de carreira para postos no exterior. Lula e o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, aproveitaram para premiar diplomatas que consideram ter realizado um trabalho fundamental para dar a feição desejada por Lula para a política externa. Jaguaribe, filho do intelectual e ex-ministro Hélio Jaguaribe, é considerado um "peso-pesado" no Palácio do Planalto, e estava encarregado de negociações com a África e a Ásia, prioridades da Presidência.

Ruy Baron/Valor

Mário Vilalva: da embaixada do Chile para o trabalho em Portugal
Nos últimos meses, além de sondar projetos comuns com países africanos e com a China, Índia e Cingapura, Jaguaribe foi encarregado de avaliar, com esses países, as impressões dos governos da região em relação a um tema delicado - as suspeitas das potências ocidentais em relação às verdadeiras intenções do Irã com seu programa nuclear.

As mudanças nas embaixadas da América do Sul são consideradas um movimento natural de rodízio, em parte estimulado pela aposentadoria do embaixador em Portugal, que criou a oportunidade de destinar um posto europeu ao embaixador no Chile. Mário Vilalva já estava no país desde 2006. Ele chefiou o departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, de onde lançou missões comerciais de fôlego na América Latina e África.

Frederico Araújo ocupou o cerimonial do Palácio do Planalto, e, nomeado para a embaixada em La Paz, foi um dos principais negociadores da reaproximação entre os governos Lula e Evo Morales, estremecidos com a maneira abrupta com que a Bolívia nacionalizou as reservas de gás, e pela desconfiança das autoridades bolivianas em relação ao que classificavam de "imperialismo" brasileiro.

Em pelo menos uma das escolhas na rearrumação de embaixadas houve influência direta da Presidência: o discreto diplomata Marcos Galvão, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda desde o início de 2008. Galvão conquistou espaço no governo Lula ao se tornar o principal negociador brasileiro no G-20. Assessor da estrita confiança do ministro Guido Mantega, Galvão conquistou também a afeição o presidente.

A aproximação entre Galvão e Lula se deu durante a reunião de cúpula do G-20, em Londres, em abril do ano passado. Lula negociava diretamente com os outros líderes, numa sala fechada do centro de convenções ExCel, os termos do comunicado do encontro quando os ingleses apresentaram o esboço de um texto, em inglês, com aspectos que não interessavam ao Brasil.

Inconformado com o andamento da negociação, o presidente, já informado pelo ministro Mantega de que Galvão era o principal negociador brasileiro no G-20, convocou-o para participar da conversa com os outros chefes de Estado. Naquele formato de reunião, os líderes só podiam estar acompanhados de um auxiliar. Galvão entrou na sala, sentou-se no chão - não havia cadeiras suficientes - e com o texto escrito pelos ingleses no colo ajudou o presidente a mudar o rumo das negociações.

A reunião de cúpula acabou atendendo aos objetivos brasileiros, entre os quais, o de institucionalizar o G-20 como o principal foro multilateral de deliberação sobre temas econômicos e financeiros e o de fixar prazos para a ampliação do poder de voto e voz dos países emergentes no FMI e no Banco Mundial.

Naquela noite, durante recepção na residência do embaixador brasileiro na capital inglesa, Lula comentou com ministros e assessores: "Marcos Galvão foi impecável." Desde aquele dia, o embaixador entrou no radar do presidente, que voltou a recorrer aos préstimos do embaixador na reunião de cúpula seguinte do G-20 - em Pittsburg, nos Estados Unidos, em setembro.

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