Valor Economico 12 de janeiro de 2010
Governo inaugura Museu da Memória para documentar e lembrar a ditadura de Augusto Pinochet'Museu da ditadura' influencia reta final da eleição no Chile
Rodrigo Uchoa, de Santiago
12/01/2010
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, inaugurou ontem um museu para documentar e lembrar uma das piores ditaduras da América Latina: a que governou o seu país de 1973 a 1990. Mas o chamado Museu da Memória também criou uma polêmica importante a seis dias da eleição presidencial que pode colocar a direita de volta no poder. A oposição acusa o governo de tentar usar a memória da ditadura para criar uma "fato político" e reverter a vantagem que o candidato Sebastián Piñera tem sobre o governista Eduardo Frei.
O museu foi um dos xodós da presidente nos últimos anos. Bachelet parece querer deixar um legado pessoal, já que ela mesma foi presa e torturada quando era uma estudante socialista de 23 anos, na ditadura do general Augusto Pinochet. Na mostra permanente ficarão expostas cartas, objetos pessoais e a foto de todos os desaparecidos. O prédio de vidro e concreto foi projetado pelo escritório brasileiro Estúdio América.
Segundo as conclusões de uma comissão suprapartidária que investigou o período ditatorial, o regime de exceção deixou 3.200 mortos; 1.200 desaparecidos; e quase 30 mil presos e vítimas de tortura.Cerca de 800 militares foram levados à Justiça por violações dos direitos humanos, sendo que quase 300 já foram condenados.
Os partidos de direita que apoiam o bilionário Piñera queriam que o museu fosse reformulado para incluir abusos cometidos durante a Presidência de Salvador Allende (derrubado pelo golpe de Pinochet em 1973). A reação expõe um consenso entre apoioadores de Piñera de que o governo estaria agora se aproveitando do tema na reta final da campanha.
"A esquerda é capaz de muitas coisas para não perder o poder. São capazes de tentar tirar coelhos da cartola até o último minuto", disse Carlos Larraín, presidente da Renovação Nacional, partido da base de Piñera. Larraín diz que a prisão de acusados de participar da morte do pai do candidato Eduardo Frei também faz parte dessa estratégia de "tirar coelhos da cartola". "Isso tudo acontecendo agora... É coincidência demais."
As autoridades prenderam na semana passada seis pessoas, entre elas quatro médicos, acusadas de matar em 1982 Eduardo Frei Montalva, pai de Eduardo Frei. Um juiz chileno chegou à conclusão de que Frei Montalva teria sido envenenado, num momento em que se firmava como um dos principais opositores a Pinochet. Frei Montalva governou o Chile de 1964 a 1970. Seu filho, Eduardo Frei, foi presidente de 1994 a 2000 e agora tenta voltar à Presidência.
Membros do governo e organizações que representam parentes de vítimas da ditadura criticam os argumentos da direita. "Atropelos aos direitos humanos cometidos no governo de Salvador Allende não podem ser comparados ao do período ditatorial, quando a violação foi efetivada de forma sistemática", disse Mireya Garcia, diretora da ONG Grupo de Familiares e Presos Desaparecidos.
Marcia Scantlebury, curadora do acervo do Museu da Memória, usa o mesmo argumento: "Os anos da ditadura foram os que produziram violações sistemáticas dos direitos humanos por parte do Estado e é isso que precisamos lembrar". "O museu é um ato reparatório às vítimas. É uma homenagem aos desaparecidos, que vinham gozando de uma não existência."
Novo museu no Chile homenageia vítimas de Pinochet
> 11.01.09
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> SANTIAGO (Reuters) - O Chile inaugurou nesta segunda-feira o Museu da
> Memória em homenagem a vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973-90),
> quando 3.195 pessoas foram assassinadas ou "desapareceram", segundo dados
> oficiais.
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> "Esperamos que este museu nos ajude como sociedade a entender o que nos
> aconteceu e que possamos nos comprometer com o respeito aos direitos
> humanos," disse María Luisa Sepúlveda, chefe da Comissão Presidencial dos
> Direitos Humanos. "É um processo que a sociedade chilena não considera
> encerrado".
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> O museu, no centro de Santiago, exibe objetos pessoais e fotos das
> vítimas, além de relatos de sobreviventes. Cerca de 28 mil pessoas foram
> torturadas durante a ditadura chilena, inclusive a atual presidente do
> país, Michelle Bachelet.
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> A abertura ocorre às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, no
> domingo, quando o milionário de direita Sebastián Piñera enfrenta como
> favorito o ex-presidente Eduardo Frei, ligado à coalizão de
> centro-esquerda Concertação, que governa o Chile desde o fim da ditadura.
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> Há mais de um ano, partidários de Pinochet inauguraram o seu próprio museu
> em homenagem ao ditador, que morreu em 2006 sem ser julgado pelos abusos
> aos direitos humanos ocorridos em seu regime.
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> Sepúlveda negou que haja uma competição entre os museus. "Podem existir
> múltiplos museus, que encontram todas essas realidades, mas desta
> realidade somos nós que estamos dando conta", afirmou ela.
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> Bachelet lançou no ano passado uma campanha para recolher amostras de
> sangue de parentes de desaparecidos, a fim de criar uma base de dados
> genética que ajude a identificar restos mortais ainda anônimos daquele
> período. Até agora, esse banco de dados tem mais de 3.000 amostras,
> segundo o IML chileno.
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> Em dezembro, um juiz abriu processo contra seis pessoas, inclusive médicos
> e membros da polícia secreta de Pinochet, pelo assassinato do
> ex-presidente Eduardo Frei Montalva, pai do candidato Eduardo Frei.
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> Também em dezembro, o corpo do cantor e compositor Victor Jara,
> assassinado pelas forças de segurança nos primeiros dias do golpe, foram
> exumados para que sejam esclarecidas as circunstâncias da sua morte.
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terça-feira, 12 de janeiro de 2010
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