Se eleita, Dilma deve manter diretrizes da política externa
Patriota, mais discreto que Amorim, é cotado para assumir Itamaraty
Marco Aurélio Garcia diz que orientação não mudaria, mas analistas apostam em mais peso da agenda econômica
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO Folha de São Paulo 30 de agosto de 2010
Um eventual governo Dilma Rousseff deverá manter as linhas gerais da política externa atual, mas haverá um freio ao menos temporário em iniciativas ambiciosas como as capitaneadas pelo presidente Lula e o chanceler Celso Amorim.
Sem o rol de afinidades internacionais que Lula acumulou, Dilma tenderia, de acordo com analistas, a ter atuação mais contida.
"É uma mudança inevitável, que tem a ver com o fato de a política externa hoje ser muito dependente da figura do presidente", diz Sandra Rios, do Cindes (Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento).
Existe também a avaliação de que a ex-ministra da Casa Civil, pelas áreas em que atuou e pelo perfil dos ex-auxiliares em quem confia -como Luciano Coutinho, do BNDES, e Alessandro Teixeira, da Apex (agência de promoção de exportações)- poderá privilegiar o eixo econômico da inserção do Brasil.
Nesse caso, ficaria em segundo plano o viés mais político, de questionamento aberto da distribuição do poder nas instituições globais -caso da mediação sobre o projeto nuclear do Irã.
Dois fatores pesarão nessa definição: a manutenção do cenário interno positivo, base para qualquer passo externo menos convencional, e o perfil do novo ministro das Relações Exteriores.
Outra escolha chave será a chefia da assessoria internacional do Planalto, hoje ocupada por Marco Aurélio Garcia. Quadro do PT, ele teve mais protagonismo que seus antecessores, quase todos diplomatas de carreira.
Garcia, um dos responsáveis pelo programa de governo da candidata, diz que não conversou com ela sobre ficar no cargo. Afirma que Dilma "não é uma tecnocrata", ao discordar que possa se revelar pouco ativista. E aponta as circunstâncias imprevistas como determinantes da ênfase da diplomacia.
Lembra que Lula, logo depois de assumir em 2003, já articulava com França e Alemanha movimento contra a invasão do Iraque, que ocorreria em seguida.
No Itamaraty, o secretário-geral Antonio Patriota é considerado candidato natural a substituir Amorim, embora se cogite um "mandato-tampão" do atual chanceler.
Amorim diz que já cumpriu seu papel: "Agora, ninguém pode ser tão arrogante que diga: "Não, não quero dar colaboração". Se me pedirem um conselho, eu posso".
Outros embaixadores em alta são Carlos Alfredo Teixeira (ex-assessor de Dilma na Casa Civil), Roberto Jaguaribe (Londres), Clodoaldo Hugueney (Pequim), Luiz Alberto Figueiredo, negociador do clima, e Antônio Simões, subsecretário-geral para a América do Sul.
Patriota, 56, não é dado a frases bombásticas. É descrito como consolidador, não inovador. Tem menos experiência que Amorim, 68, que já havia sido chanceler de Itamar Franco, embaixador na ONU e chefe da delegação em Genebra, sede da Organização Mundial do Comércio.
O secretário-geral fez carreira nos mesmos órgãos multilaterais, mas sua primeira titularidade foi em Washington (2007-2009).
Ricardo Sennes, da consultoria Prospectiva, avalia que ele é menos "antidesenvolvidos, entre aspas", que o chefe: "Já abriu conversas com o Canadá e os EUA".
Em artigo na revista "Política Externa", Patriota reafirma três eixos da diplomacia -América do Sul e demais parceiros "tradicionais", como Europa e EUA; cooperação Sul-Sul, e democratização da governança global.
Mas se refere à atuação em "questões de paz e segurança" (Irã). Isso, diz, cria chance de diálogo para a "construção de consensos -ou, mais realisticamente, de maiorias- que legitimam um processo coletivo".
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
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