quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Presidência da União Européia

Folha de São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009


Longe de um consenso, UE escolhe hoje seu presidente
Países têm divergências sobre perfil e origem de novo homem forte do bloco

Nome mais cotado até ontem era o premiê belga, Herman Van Rompuy, mas candidatura de Tony Blair ainda mantinha adeptos


A União Europeia escolhe hoje seu primeiro presidente, mas o cabo de guerra político que por dois anos protelou a aprovação do Tratado de Lisboa (o documento que moderniza a estrutura política do bloco) não vai acabar no jantar desta noite.
A horas de a decisão inédita ser tomada em Bruxelas pelos líderes dos 27 países-membros, ninguém fazia ideia de quem seria o presidente, de que país deveria vir ou qual perfil político deveria ter. Até agora, a presidência rodava a cada semestre entre os integrantes, mas o inchaço do bloco tornou o modelo inviável.
O escolhido terá mandato de dois anos e meio renovável uma vez. O atual favorito é o premiê belga, Herman Van Rompuy, um político de centro-direita há menos de um ano no cargo que superou o colega Jean-Claude Juncker, cujas chances diminuíram por vir ele do diminuto Luxemburgo.
Sua liderança nas apostas, no entanto, é tão tíbia quanto sua experiência e seu nome, que carece do apoio dos governos de esquerda e daqueles para quem o bloco precisa de um líder que ressoe globalmente se quiser fazer frente a EUA e China.
Os que endossam essa visão continuam a apostar no ex-premiê britânico Tony Blair, mas suas chances se esvaem na proporção que cresce o rechaço dos países centro-europeus, favoráveis a alguém mais à direita, e as discussões dentro do próprio Reino Unido, onde a oposição o descreve como um líder que privilegiou os EUA em detrimento da Europa.
Nessa linha, a alternativa mais citada é o ex-premiê sueco de centro-direita Carl Bildt.
Rumores de acordos de bastidores irritaram alguns políticos lançados como candidatos -não há lista oficial, mas mais de 20 nomes já foram citados.

Noite longa
As três semanas que decorreram desde a decisão do presidente tcheco, Vaclav Klaus, de assinar o tratado e derrubar o último obstáculo à sua implementação em 2010 foram pouco para afinar um coro com vozes tão dissonantes política, econômica e historicamente.
A julgar pelas declarações mais recentes dos líderes e pelas análises na mídia europeia, o jantar desta noite, quando os chefes de Estado e de governo apontarão um nome, deve refletir todas essas polarizações. Ainda ontem, o premiê direitista Silvio Berlusconi (Itália) disse que ele e seus colegas estavam longe do entendimento.
O Tratado de Lisboa visa modernizar estruturas que ficaram anacrônicas quando a UE cresceu de 15 para 27 membros. O estatuto cria cargos com real poder -embora não defina quem representará o bloco- e estabelece a maioria qualificada para agilizar um processo decisório por consenso que frequentemente trava.
Essa dificuldade congênita que fez da UE um parceiro disfuncional em fóruns globais deve ser levada à mesa hoje, como adiantou o premiê sueco Fredrik Reinfeldt, na presidência rotativa do bloco. "Temos os nomes [para os cargos]? Não sei. Pode levar horas. Pode levar a noite toda. É para isso que estou me preparando."

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