Conselho da ONU deve ter grandes emergentes
Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pode atuar de forma articulada
Coordenação dos países na organização não será automática, no entanto, segundo a previsão de especialistas no grupo
CLAUDIA ANTUNES Folha de São Paulo de 10 de outubro de 2010
DO RIO
A provável composição do Conselho de Segurança da ONU em 2011 resultará na presença simultânea dos integrantes de três "fóruns de diálogo" criados nos últimos anos por grandes países emergentes: Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China).
Por enquanto, há mais interrogações do que respostas, incluindo na diplomacia brasileira, sobre o efeito prático da simultaneidade.
China e Rússia são, antes de tudo, membros permanentes do CS, com poder de veto, ao lado de EUA, França e Reino Unido.
Além disso, os temas prioritários nos três fóruns -economia, desenvolvimento e clima, respectivamente- têm relação indireta com as discussões do órgão, voltadas à paz e à guerra.
Mas o impacto simbólico foi ressaltado há poucos dias pelo embaixador indiano na ONU -que previu coordenação do Bric no CS-, e é avalizado por especialistas.
"A lógica [dos fóruns] será tangencial no contexto do CS. Mas refletirá uma das fricções entre duas placas tectônicas da política internacional hoje: de um lado, as instituições formais, herdadas de 1945 [data de criação da ONU]; do outro, os espaços informais, muito dinâmicos, que ainda precisam dizer a que vieram", diz Matias Spektor, coordenador de estudos de relações internacionais da FGV-Rio.
A eleição para o CS ocorrerá na próxima terça-feira. Das dez vagas não permanentes, há cinco em disputa.
Índia e África do Sul são candidatas únicas de suas respectivas regiões, e prevê-se que obterão com facilidade os 128 votos necessários na Assembleia Geral, que reúne todos os países (dois terços do total).
O Brasil cumprirá o segundo ano de seu mandato. É também possível a eleição da Alemanha, que disputa uma de duas vagas europeias.
Nesse caso, e incluindo a África do Sul, estarão no órgão três países considerados prováveis membros permanentes no futuro.
REFORMA E IRÃ
Não há, no entanto, previsão de que a reforma do CS avance. Primeiro, porque China e Rússia resistem a ela, apesar de a democratização do sistema internacional ser tópico de todos os comunicados do Bric.
Segundo, porque as posições de Brasil, Alemanha e Índia, de um lado, e África do Sul, do outro, não coincidem totalmente.
Os três primeiros, que formam o G4 com o Japão, admitem que novos membros permanentes não tenham de imediato poder de veto.
Os sul-africanos seguem a posição da União Africana, que pede mandato pleno para os novos integrantes.
Nas grandes questões de segurança, a polarização emergentes versus desenvolvidos no CS é improvável.
Como se viu na votação de sanções ao Irã, China e Rússia têm optado por não confrontar os EUA, embora tenham negociado uma resolução mais fraca.
Mas Spektor evoca a possibilidade de uma articulação dos emergentes para desenvolver "argumentos alternativos, não diretamente confrontacionistas".
Chance de união haveria, avaliam diplomatas, em caso extremo de unilateralismo -um ataque americano ao Irã, por exemplo.
DIFERENÇAS
Se o Ibas é visto como um fórum mais homogêneo, a coesão entre os Bric é complicada, pelas diferenças de poder entre os quatro e velhas rivalidades de três deles -China, Rússia e Índia.
"Mas cada um percebe que no jogo associativo há um ganho de valor individual", diz o embaixador aposentado Marcos Azambuja, que tem acompanhado todos os encontros do fórum.
domingo, 10 de outubro de 2010
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