domingo, 1 de janeiro de 2012

Direitos Humanos na Argentina




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São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2012 Folha

Pilotos de 'voos da morte' enfrentarão Justiça argentina



Crimes cometidos durante a ditadura serão julgados em 2012 graças a dados

e fotos recém-revelados no país



Principais acusados pilotavam os aviões que jogavam prisioneiros

políticos, muitas vezes vivos, no rio da Prata



SYLVIA COLOMBO

DE BUENOS AIRES



Os julgamentos dos crimes cometidos durante a ditadura militar argentina

(1976-1983), que estão sendo promovidos como política de Estado pelo

governo Cristina Kirchner, colocarão no banco dos réus os responsáveis

pelos "voos da morte".



Os acusados de pilotar aviões que jogavam no rio da Prata prisioneiros

políticos enfrentarão os tribunais em 2012. Alguns já foram condenados em

primeira e em segunda instância.



O processo ganhou novos elementos no último mês, quando a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos entregou à Justiça argentina 130 fotos

de vítimas desses voos. Também foram fornecidos mapas que indicavam onde

os corpos foram encontrados -a maior parte deles em praias uruguaias.



As fotos tiveram ampla repercussão no país por serem a primeira prova

visual concreta da existência dos voos.



O material, agora entregue ao juiz Sergio Torres, será cruzado com

informações obtidas a partir de planilhas de voos descobertas e reveladas

no ano passado pela jornalista Miriam Lewin.



O objetivo é determinar quem são os desaparecidos, suas datas de morte e a

identidade de seus assassinos.



As imagens apresentam sinais de tortura e violência. Os corpos têm as mãos

e as pernas atadas; alguns apresentam sinais de balas. Foram encontrados

ainda com alguns deles documentos pessoais e moedas argentinas.



Os voos da morte foram comuns na ditadura. Os prisioneiros, na maioria

vindos da Esma (Escola Mecânica da Armada, centro de detenção ligado à

Marinha), eram levados em grupos de 20 a 30 pessoas, em voos noturnos, e

arremessados às águas.



Segundo estimativas, cerca de 3.000 pessoas morreram desse modo. Os

militares davam às operações o nome eufemístico de "traslados".



MÃES DE MAIO



Os casos mais famosos vieram à tona em 2005, quando a Equipe Argentina de

Antropologia Forense identificou cadáveres encontrados em 1977 na costa

argentina.



Revelou-se que se tratava de um grupo de mulheres que integravam as Mães

da Praça de Maio e que haviam sido sequestradas em dezembro daquele ano:

Azucena Villaflor, Angela Aguad, Esther Ballestrino e María Ponce, além da

freira Léonie Duquet.



Um dos crimes mais bárbaros da ditadura, o sequestro e morte do grupo foi

fruto de operação liderada por Alfredo Astiz, oficial da Marinha conhecido

como "O Anjo Loiro da Morte" e recentemente condenado pela Justiça

argentina à prisão perpétua.



O cruzamento de informações dos peritos com as das planilhas de voo

obtidas por Lewin em 2010 permitiu rastrear os pilotos responsáveis pela

desaparição do grupo.



Em junho último, o juiz Sergio Torres ordenou a prisão preventiva do

oficial Alejandro Domingo D'Agostino e de dois funcionários da Aerolíneas

Argentinas, que então ainda estavam na ativa, Enrique José de Saint

Georges e Mario Daniel Arru.



Os três responderão a processo na Justiça argentina por crimes de

lesa-humanidade.Por essa mesma causa, já está preso na Espanha o repressor

da Esma Adolfo Scilingo, cujo depoimento serviu de base ao livro "El

Vuelo", do jornalista Horacio Verbitsky.



Ontem, a Justiça argentina divulgou que, ao todo, 83 pessoas foram

condenadas em 2011 por crimes cometidos durante a ditadura militar